Monday, April 18, 2005

Tarefas Simples - Parte A

Há tarefas que deviam ser simples.

Como por exemplo alugar uma cassete de vídeo.

A corar violentamente e com o coração nas mãos confesso que ainda não levei o "upgrade" das siglas. Embora bem almeje conseguir suceder nesse periclitante jogo de equilíbrio que é um pobre diabo manter-se na prateleira da classe média, a verdade é que ainda não passei do VHS para o DVD. Oh, tristeza. Oh, horror. Oh, oh.

A coisa não incorpora muita teoria: é entrar num vidoclube, escolher a dita... er... hmmm... cof, cof, cassete de video e sair. E isto resulta, porque já vi muita boa gente cumprir à risca esse protocolo! Só que lá em casa... não é bem assim.

Talvez a raíz do problema comece pela formação de pessoas escolhidas para levar a cabo a tarefa.

Tradicionalmente, deslocamo-nos para este tipo de missão em equipas mínimas de 2 pessoas, com as seguintes variantes:

pai-filha 1;

pai-filha2;
pai-filha3;
filha1-filha2;
filha2-filha3;
filha1-filha3;
mãe-filha1;
mãe-filha2;
mãe-filha3
etc.

Segue-se, no local, uma discussão interminável noutro mínimo, garantido, de línguas - 3, por sinal. Como somos 5, há sempre um que já viu o filme, um que não gosta de dramas, um que recusa quase liminarmente cinema europeu, um que detesta comédias americanóides, um que que está mal de amores e humores e regurgita à vista de uma história-de-amor-com-final-feliz-garantido, outro que descobriu o final do policial só de ler a sinopse... A lista é interminável.

Atiram-se argumentos, há uma variação considerável de tons de vozes (sempre duplamente ameaçadora, quando em línguas estrangeiras), muita gesticulação, amuos, beicinho, esbanjamento de charme e graxa e não é pouco comum o recurso ao argumento final - clássico:

"Eu é que pago, eu é que sei."

ou ainda

"Eu é que tenho as chaves do carro. Vê lá se te apetece aperfeiçoar a marcha."

A verdade é que por estas e por outras, temos um cadastro invejável em todos os videoclubes das cidades premiadas com a nossa renda. Neste momento, há um número proporcional de criaturas - novas e velhas - que está a descobrir as alegrias da psicanálise e que não teria chegado a esse caminho da verdade sem a nossa solícita - e gratuita - ajuda.

Ao chegar a casa com o troféu, invariavelmente há um ou outro que pragueja, que franze o sobrolho, que usa a tromba, que revira os olhos, que faz questão de anunciar que faz favor em comungar da projecção na nossa tela

da melhor marca branca disponível na Makro

que invariavelmente também é castigado pelo resto da tribo e obrigado a encarregar-se da

parte logística do ritual.

(A distribuição de quantidades grossas de milho estalado e água com corantes potencialmente cancerígenos pela prole).

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