Tuesday, April 26, 2005

Cá se vai andando

No "post" anterior

[pah, não quero ser possidónia nem nada, mas a casual utilização destas palavritas estrangeiras traz um elemento de sofisticação ao texto, não traz? É logo outra coisa. Outro jogo. Outra liga. Outro nível. "bláblábláblábláPOSTblábláblá. Não soa bem?! Não arquearam as peitaças em suspiro de admiração "esta-tipa-percebe-mesmo-disto-ena-post-soa-mêmo-bem"?! Não disfarcei, com essa singela palavrinha, o facto de ter levado 3 semanas a descobrir como se formatava a porcaria de um parágrafo?! Porque vejam lá que na minha terrinha a gente quando quer um parágrafo carrega na tecla do "enter" e toca a andar, mas aqui, só para ser diferente, só porque é mais bonito, afinal é preciso um códigozito, uma coisinha tão pouco óbvia quanto o Santana Lopes ter parado a Primeiro-Ministro sem alguém me ter consultado primeiro, umas coisitas com parêntesis e <> antes de cada frase. Pronto. Estava apenas a adiar esta descoberta para depois do meu doutoramento em física quântica. Escuso agora de fazer o doutoramento, com o adiantamento desta feliz informação.

terminava a salva de palavras com o anúncio da aproximação de um "programa de gajas".

Certa que essa divulgação deixou pairar na vossa fértil imaginação a projecção de 3 dias dignos de um videoclipe dos Aerosmith, gostaria de desmentir a putativa fantasia e esclarecer os factos.

Não, não fugimos de um colégio interno vestidas com meinhas altas e pouco mais. Não, não furtámos óculos de sol na bomba de gasolina e não, não gratificámos o funcionário da bomba com uma sucessão de fotografias photomaton com tecido mamário à mostra. Não, não cantámos karaoke com fatiotas de "las Vegas showgirl"e insinuações lésbicas pelo meio e não, não atraímos um agricultor apetitoso de corpo perfeito, nú, para um lago artificial (esta última, com muita pena minha).

A coisa foi mais uma mistura de cura de sono com um pico abrupto de actividade adolescentóide Saturday Night. A ver:



Sábado - dia

Depois de nos mimarmos com um pequeno-almoço principesco tomado a horas de almoço, fomos puxadas pela gravidade - ajudada em muito por um peso brutal no estômago - para o sofá. Aí jazeram os nossos corpos, de pijama, a produzir bolor e a chorar 5 programas seguidos da Oprah

pelo menos eu chorei, que por baixo desta capa fria e corrosiva sou muito sensível

entre outros tantos de transformação de visual, mudança de decoração da casa e um precioso documentário sobre baleias e a reprodução de corais.

Cerca de 5 horas depois, com a cabeça a latejar e a tensão arterial de um pardal, decidi abruptamente que estava na hora de activar a circulação - à falta de Prozac, pareceu-me ser a medida mais segura contra a neura bestial que se avizinhava.

O tempo, tipicamente, estava algo entre um encorajamento da mãe-natureza ao internamento voluntário em sanatório e o cenário cinzento de uma história de amor francesa, daquelas que quando acaba mal, acaba pessimamente.

Troco o pijama pela ganga e o kispo, marcho a passadas largas para a liberdade, dobro a esquina e sinto a chuva miúda a impregnar o cabelo. Chuva por chuvinha, é só água e quando regressasse tinha que tomar um duchezito, portanto decido prosseguir. Foi um daqueles momentos cruciais em que entre virar à direita ou à esquerda, decidimos pela direita e cai-nos um piano em cima da cabeça. No caso, não um piano, mas uma bátega torrencial que me colou o cabelo ao cerebelo.

Largo a correr, dou a volta ao quarteirão e entro directa para o duche. Felizmente, dado o mote, as amigas seguiram o exemplo e a atmosfera densa dissipou do abafado-pijama para uma mistura de brise-pinho e nívea.

Daí seguimos para um estimulante passeio com a cadela, que também teve os seus momentos altos. Entre outros, inventei 122 versões possíveis para os 4 primeiros versos da versão do "Jura" do Rui Veloso, trocando apenas as palavras "lua" e "acontecem". Terrivelmente didáctico. Fomos igualmente agraciadas pelo salvamento comovente da bola da amiguita peluda

por bola, entenda-se uma esfera com o seu próprio peso em saliva, baba, relva e lama, que ao cair no rio Tejo, suspeita-se tenha adquirido propriedades radioactivas

por parte de um herói local - um pescador de fim-de-semana.



Saturday Night

Agarramos em duas amigas, resguardamos a nossa identidade com os nossos nomes-código para o que der e vier e seguimos para Almada, a "road-trip" dos pobres. Chegadas ao destino, a Amélia, a Manana, a Urraca, a Núria e eu (a Kinder, Kindi para os amigos, muito obrigada. Um chocolate-uma surpresa-um brinquedo) prontamente gritamos o coro da Canção das Velhas com o SGodinho (a única que sei mais ou menos de cor), engrenamos na música do Zeca Baleiro e juntamo-nos ao resto do pessoal quando chega à hora de exigir o "encore".

Ora, instigadas pela bela Urraca, em cujos instintos a experiência nos tem ensinado a confiar, decidimos pedir uma coisita que jamais alguém me dedicará e que culmina assim "Éu dária tûdu prá não ver você cáláda...". E quando digo decidimos pedir, pretendo informar que gritámos, possessas:

"ÉU... DÁRIA TÛDU PRÁ NÃO VER VOCÊ CÁLÁDA...!"

A pujança foi tal que o Zequinha lá se dignou a ouvir e pergunta, do palco: "Quáu?" E logo nós, cada vez mais animadas:

"ÉU... DÁRIA TÛDU PRÁ NÃO VER VOCÊ CÁLÁDA...!"

O rapazito agita-se de um lado para o outro e vem para o nosso lado, com ares de quem não tá a ouvir. Nós ajudamos:

"ÉU... DÁRIA TÛDU PRÁ NÃO VER VOCÊ CÁLÁDA...!"

As luzes estão em cima de nós, conseguimos parar Almada com o nosso entusiasmo, todos os olhos estão fixos neste ping-pong entre cantor e espectadoras. É aqui que a porca torce o rabo. Com ar de estranheza, o rapaz cospe pró microfone: "´Cês têm á cêrtêza qui éssa é minha?!".

O coração gela, eu coro porque é o que faço sempre,

seja ou não preciso ou adequado, que esta pele marmórea não dá tréguas à dona (maldita falta de melanina!)

a Urracazita parece vacilar, instala-se entre nós o rumor que se calhar a música é do Lenine, assim de repente não temos a certeza e é impossível disfarçar ou transportarmo-nos instantaneamente tipo Star Trek para a Conchichina, agora já toda a gente viu e ouviu, que barraca.

O moço lá retoma o espectáculo com outra coisa qualquer e nós, no final, optamos pela teimosia e vamos ter às boxes por trás do palco, atiramos palpites sobre qual será a do camarim e é a essa que batemos entusiasticamente, do lado de fora das grades e berramos, declaradamente adolescentes,

"ÉU... DÁRIA TÛDU PRÁ NÃO VER VOCÊ CÁLÁDA...!"

Lá de dentro, ouvimos resposta, portanto eu retomo, sem pudor, a bater na madeirita e a replicar

"ÉU... DÁRIA TÛDU PRÁ NÃO VER VOCÊ CÁLÁDA...!"

e quando viro a cara, a estranhar a desistência súbita das amigas, dou de caras com 4 polícias de choque a avançar simpaticamente na nossa direcção. Antecipando que uma mudança brusca de atitude evitaria explicações embaraçosas aos miúdos da igreja que tão diligentemente me esforço por encaminhar e edificar com exemplos de boa conduta e maturidade, desisto da empreitada e sentamo-nos todas, inconformadas, numa paragem de autocarro.

Para apaziguar as facções Lenine-Zeca Baleiro que se levantavam, decido prometer um jantarito grego lá em casa se a Urraca não nos tivesse enganado.



A pesquisa discográfica resultou no seguinte: a música é mesmo do Sr. Baleiro (indecente que se tivesse recusado a tocar um dos seus primeiros trabalhos) e eu, que - é universalmente conhecido - DETESTO COZINHAR, vou mesmo pôr o avental e laborar ao fogão para produzir iguarias que apenas o destino ditará se serão causa de gastroenterites ou não. Fogo.

Zeca, querido, quando leres estas linhas (e é evidente que o farás, porque a tua bagagem cultural estará sempre desfalcadérrima se não o fizeres), pensa bem no mal que provocaste e no quanto

"ÉU... DÁRIA TÛDU ...!"


Friday, April 22, 2005

Lamúria

Há já um ano e meio (cerca de 548 dias, mais coisa, menos coisa) que não tenho férias.

Neste ponto da narrativa, não só se admitem, como se encorajam as seguintes expressão de pena e solidariedade:

Onomatopeias - OOoooooooh!; Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah!; Eeeeeeeeeeeehhhhhhhhhhh!; Iiiiiiiiiiiiiiiiiiiiihhhhhh!?, Tss, tss!; etc.
Expressões faciais - Enrugar a fronte; deixar cair bem o maxilar; levantar as sobrancelhas; arregalar os olhos; esticar a face e os lábios em atitude de "palhaço triste", etc.
Expressão corporal - Erguer as mãos no ar; levar a mão ao peito, como se o coração fosse arrancar em vôo; bater repetidamente no peito, em dor e agonia; levar as mãos à cabeça; chocalhar a cabeça num "não" convulsivo; etc.
Lágrimas - Ejecção de 2 a 10 gotas gordas por canal lacrimal (se tiverem ramelas, as duas primeiras não contam, porque no fundo o seu serviço é mais de limpeza que de manifestação de dor suprema.). O ideal, se conseguirem, é bloquearem mesmo o ducto lacrimal, de modo a lacrimejarem constantemente dos olhos.

Dito isto, perdoar-me-ão se nem sempre executo as tarefas diárias com o melhor humor possível. Pressinto mesmo, aliás, que me estou a tornar impossível de aturar.

(o chamado "feitiozinho", cuja falta de especificação - feitio bom? mau? - e diminutivo são aqui utililizados de modo depreciativo. Que culpa tenho se tenho um nariz greco-aristocrático, cujo comprimento faz com que se aproxime muito mais rapidamente a mostarda do dito apêndice que o resto dos comuns mortais?!)

Para essa mística intuição contribuiram certas subtilezas no ambiente do escritório, como sejam a insistente demanda da marcação das minhas férias por parte dos patrõezitos,

Chefe Touro Sentado e Chefe Raposa Calada -

uma demanda que neste momento atingiu a frequência diária, excepto durante uma sexta-feira mensal, coincidente com o pico do SPM

(Síndrome Pré-Menstrual, para o pessoal que não foi abençoado com ovários)

em que perguntam várias vezes num só dia. Em meses em que falhei mais que 2 tomas de pílula

há 7 anos a tomar o comprimidito amarelo e não há mês que passe que não me olvide desse gesto socialmente aceite ao fim de tanta luta por parte de gerações inteiras de mulheres antes de mim - mau-grado o alarme do telemóvel gemer às 21h todos os dias e cerca de 6 pessoas do meu círculo familiar e social mais próximo assumirem ocasionalmenteo o lugar de lembretes humanos. Soubessem essas intrépidas activistas que eram cabecitas aéreas como a minha que se iam agarrar a essas pequenas bombas hormonais e queria ver se tinham gasto o seu latim na causa. O tanas!

o grau de insistência aumenta vários dias antes da sexta-feira negra. Como já expliquei por diversas vezes aos chefinhos, não tiro férias para ficar atolada cá na cidade, portanto sem dinheiro

sem guito, carcanhol, cacau, o vil metal,

daqui não saio. Porque entre trabalhar e fermentar uma neura no bairro cravejado de velhotas simpáticas onde vivo, a escolha é óbvia.

Foi assim com algum agrado que reparei na aproximação de um fim-de-semana prolongado, um fenómeno natural que agracia o comum proletário de quando em quando e que, no calendário português, consegue ser induzido de modo artificial por uma manha frequentemente utilizada a que chamamos "ponte" e a que o o próprio governo não tem pudor a aderir, numa reciclagem nostálgica romana do querido "pão e circo".

Com planos de cravar boleia, fiz assim planos de zarpar para o Reino dos Algarves,

minha querida terrinha, pátria amada,

acostar no sofá de uma das manas , a nossa "problem-child", amancebada com um Croupier com vocação de santo (é tudo mulheres difíceis, lá em casa),

cujos pais - quando não a martirizam com comparações danosas com o supra-sumo das namoradas de todo o mundo que era a ex-namorada do filhote e a seguir a essa não há mesmo quem lhe ocupe o lugar no pedestal apesar de o filhote já não andar com a ex (daí o prefixo "ex") mas isso não quer dizer nada de nada- são pescadores e portanto tinha garantido um "stock" invejável de peixinho fresco para desintoxicar e nutrir este débil amontoado de carne, gelatina, ossos e olheiras a que o espelho insiste a atribuir como meu,

matar saudades do sangue do meu sangue, discutir 3 vezes ao dia com o sangue do meu sangue, pôr-me a par das últimas novidades da vila, passear quilómetros absurdos de beleza pela serra e pela praia, comer quilos de torradas de pão alentejano, sair à noite e rever os amigalhaços do liceu, ler saltar, brincar.

Como deliciosa adição a este texto idílico de folheto estava a presença certa da querida amiga Helena. Abandonada, qual depósito de lixo orgânico, pelo marido, que segue em viagem para filmar cenas épicas que preencherão os nossos ecrãs televisivos com reptos de consumo, a miúda decidia espairecer no sul. Levava carro (o tal suporte logístico de borla).

Tudo pronto e os castelitos construídos no ar. Desmoronam com pompa e circunstância quando recebo a improvável notícia que a Helena, afinal, tem que ficar em Lisboa, capital do Império, para tomar conta da cadela dos sogros. Fico cheia de pena, dizemos "fica para a próxima" e conto então com a minha outra boleia. Todavia o moço que me acomodaria no seu lugar de pendura vai para o JAPÃO nesse preciso fim-de-semana. Não para o Coiro da Burra, não para Paredes da Beira, para o Japão. Pronto, se é assim que vai ter que ser...!

Em conluio com a Helena lá projectámos fim-de-semana "de gajas". Levo a mochila e vou a casa dela - sempre mudo de bairro. Daqui para a frente, é o que for. O que nos espera, não se sabe.

Eu só sei que há já um ano e meio (cerca de 548 dias, mais coisa, menos coisa) que não tenho férias. Neste ponto da narrativa, não só se admitem, como se encorajam as seguintes expressão de pena e solidariedade...

Tuesday, April 19, 2005

Voz Activa e Voz Passiva

Há coisas na língua portuguesa que me deixam perplexa.
Veja-se, a título de exemplo, a expressão "apanhar germes" ou "apanhar uma doença".
Meus caros, por pura coerência e em defesa de uma vida inteiramente dedicada ao máximo de desresponsabilização possível, gostaria de aqui publicamente afirmar que eu não apanho germes. Eu não apanho doenças. Eu sou apanhada por germes e sou apanhada pela doença.
Era só para esclarecer quem é realmente a vítima nesta história toda.
E agora com licença, que tenho que ir tomar o xarope.

Powow

Olhem que esta... Anda tudo tão raladinho com o ozono,
o ozono, ai o ozono, o buraco no ozono, a falta que o ozono faz,
os males da poluição e eu sei lá que mais... Tudo às turras por causa do Protocolo de Quioto, nós aqui no cantinho ocidental com a terra a chorar com sede, que anda o tempo todo maluco porque as mudanças climáticas
ai, que isto anda tudo doido, ai que está tudo trocado,
já nos tramaram o esquema todo e o que é que o Vaticano, proclamado pólo exemplar de ética e moral e consciência faz? Reúne em amena cavaqueira e ao invés de ensaiar alguma técnica moderna de divulgação
sei lá, assim de repente, um microfone, um megafone, berrar de uma janela no canto com maior reverberação lá do pátio, telefonar para a TVI,
da sua decisão final, não. Nada disso. Tem algum pobre desgraçado num posto cujo objectivo é DEITAR FUMO para a atmosfera. E não bastasse isso, ainda estamos em agonizante intoxicação à espera de um famoso fumo BRANCO - e aqui logo me ponho a imaginar o "cocktail" belíssimo de químicos que não levará.
Valha-nos Santo Ambrosino dos Pascácios e dos Inconscientes.
Não me parece nada bem. Não, não me parece nada bem.

Monday, April 18, 2005

Tarefas Simples - Parte B

Com um modus operandi destes, não será portanto de admirar que, ao ser solicitada por meu venerando pai para o auxiliar a escolher um par de óculos novos depois de cumprido o horário de funcionária pública, tenha procurado de todas as maneiras possíveis um modo de me esquivar à responsabilidade.

Tendo falhado redondamente na intenção, dei por mim a ser agradavelmente surpreendida pela facilidade com que deslindámos a coisa: os óculos já tinham sido escolhidos, foi só responder por ordem - "Ficam bem?" - "Sim, ficam." - "Então ficam estes mesmos." E tudo ficou resolvido.

Ah, a doce leveza da descomplicação. Ah, o doce tinir dos sinos da resolução. Ah, o calor interior que advém do dever cumprido.

Uns dias passados, recebo um telefonema que desenterra o assunto. Por complot inqualificado, o senhor técnico tinha descoberto uma falha na massa e as lentes não sei quê e então aquilo não estava em condições e já não dava. Era imperativo que me deslocasse à velocidade da luz para o local, porque entretanto tendo dado o golpe de misericórdia nos seus próprios óculos

imagino, sentou-se em cima deles, praí!,

o meu pai estava incapaz de ver 2 bois a dançar o tango à sua frente, quanto mais agora ver armações.

Respondendo ao grito de emergência, sujeito-me a cerca de 3 249 tipos de vírus e bactérias diferentes a que o pobre e frágil ser humano se sujeita de cada vez que entra num transporte público, chego com prontidão para bramir 26 anos (agora vão ter que levar com a idade mais uns tempinhos... é novidade, há-que agitá-la com estardalhaço, qual bandeira carregada de honra e orgulho e as outras coisas que se costumam cantar nos hinos nacionais e que agora não me ocorrem)

pessoalmente, não gosto da melodia do nosso, a letra é assaz bélica e o coro absolutamente suicida - modos que eu, uma cachopa tão bem-dispostita com a vida, dou por mim a trautear "nanananana.... CONTRA OS CANHÕES MARCHAR, MARCHAR"... nananana. )

de gosto impecável e intransigente perícia no opinar estético, (Se descontarmos os anos em que me vestiram)

já não bastava serem os anos 80, tive que passar a infância e a primeira parte dos anos 90 com tudo pelos tornozelos e pelos cotovelos, com combinações cromáticas dignas de um daltónico eremita (sem a benesse do aval de terceiros, portanto), com os cumprimentos da mãezinha, que na altura não ligava a essas trivialidades; e de um ritmo de crescimento de brontossauro onde reinavam velociraptors (criaturinhas baixinhas e más que me torturaram com diversos nomes de animais de savana)

e transformar-me nos olhos do pobre. Um autêntico pastor-alemão, cão-guia da moda.
Et, voilà!! Duas horas a esgotar a paciência de uma funcionária mimosa, revolvendo o local à procura das pestes que não apareciam

muito clássico

não gosto da cor

muito grandes

não se adaptam às lentes

fazem-me velho

estou ridículo

e por grotesco azar sentados nas cadeiritas previamente aquecidas por alguém que certamente não precisa de consultar o seu saldo de conta com a mesma sofreguidão exasperada que a nossa, porque à nossa frente jaziam não os despojos de armações, mas um autêntico desfile: ele era Yves Saint Laurent, ele era Gucci, ele era Calvin Klein,

ele era o meu pai, a fazer beicinho, todo zarolho, a declarar "Ena, estes assentam-me mesmo bem na cara, gosto da forma, é mesmo isto" e eu a interromper, com os dentes cerrados, "Dou-lhe trezentas e noventa e sete ponto trinta razões para não quere essas armações"

e logo a busca incessante a ser retomada, viagens de ida e volta pacientemente trilhadas pela futura-prémio-Nobel-da-Paz, até ao glorioso momento em que nos sentámos, em mesa redonda, a fitar as 2 opções finais. Mais um

"E estes?"

"Agora estes."

"Agora estes outra vez."

"Vê os primeiros, só para ter a certeza."

"Ponha lá os outros, que já estou almareada...?"

e declarava, com toda a arrogância e certeza: "Os primeiros." Sem dúvida eram os primeiros, que a cor até puxava pelo verde nos olhos e rejuvenescia a cara, etc. E logo o pai, para contrariar, gostava mais dos outros. Replico com o diplomático: "O que é preciso é que goste, é o pai que os vai usar",

aqueles também lhe ficavam deveras bem, ai a coisa,

e imediatamente este meu assentir já lixava tudo, porque lhe semeava a dúvida de novo na alma.

É neste ponto que o colosso teimoso que me emprestou alguns dos genes volta a sua atenção e focalizado charme para a libelinha funcionária, cujos olhar de candura rapidamente se enevoavam com um certo e compreensível pânico, e lhe deposita o peso da opinião de desempate. A menina votou pelos segundos, eu reviro os olhos, mas aceito e seguimos o nosso caminho.

Uma hora depois de chegada a casa,

não sem quebrar o meu próprio record de corrida de velocidade atrás do autocarro e não sem sair do dito com mais 5 484 novas criaturas microscópicas e potencialmente nocivas a dançar no organismo,

nova chamada. O sempre atento senhor técnico descobrira não sei o quê que também era incompatível com as escolhidas. Ficavam as armações que eu ditara, sem mais ai-nem-ui.

Moral da história?

É claro que não há moral nenhuma, mas sinto hoje a obrigação de justificar este arrazoado com um fim superior.

Mái díars... Ai éme áluaise ráite!!

Tarefas Simples - Parte A

Há tarefas que deviam ser simples.

Como por exemplo alugar uma cassete de vídeo.

A corar violentamente e com o coração nas mãos confesso que ainda não levei o "upgrade" das siglas. Embora bem almeje conseguir suceder nesse periclitante jogo de equilíbrio que é um pobre diabo manter-se na prateleira da classe média, a verdade é que ainda não passei do VHS para o DVD. Oh, tristeza. Oh, horror. Oh, oh.

A coisa não incorpora muita teoria: é entrar num vidoclube, escolher a dita... er... hmmm... cof, cof, cassete de video e sair. E isto resulta, porque já vi muita boa gente cumprir à risca esse protocolo! Só que lá em casa... não é bem assim.

Talvez a raíz do problema comece pela formação de pessoas escolhidas para levar a cabo a tarefa.

Tradicionalmente, deslocamo-nos para este tipo de missão em equipas mínimas de 2 pessoas, com as seguintes variantes:

pai-filha 1;

pai-filha2;
pai-filha3;
filha1-filha2;
filha2-filha3;
filha1-filha3;
mãe-filha1;
mãe-filha2;
mãe-filha3
etc.

Segue-se, no local, uma discussão interminável noutro mínimo, garantido, de línguas - 3, por sinal. Como somos 5, há sempre um que já viu o filme, um que não gosta de dramas, um que recusa quase liminarmente cinema europeu, um que detesta comédias americanóides, um que que está mal de amores e humores e regurgita à vista de uma história-de-amor-com-final-feliz-garantido, outro que descobriu o final do policial só de ler a sinopse... A lista é interminável.

Atiram-se argumentos, há uma variação considerável de tons de vozes (sempre duplamente ameaçadora, quando em línguas estrangeiras), muita gesticulação, amuos, beicinho, esbanjamento de charme e graxa e não é pouco comum o recurso ao argumento final - clássico:

"Eu é que pago, eu é que sei."

ou ainda

"Eu é que tenho as chaves do carro. Vê lá se te apetece aperfeiçoar a marcha."

A verdade é que por estas e por outras, temos um cadastro invejável em todos os videoclubes das cidades premiadas com a nossa renda. Neste momento, há um número proporcional de criaturas - novas e velhas - que está a descobrir as alegrias da psicanálise e que não teria chegado a esse caminho da verdade sem a nossa solícita - e gratuita - ajuda.

Ao chegar a casa com o troféu, invariavelmente há um ou outro que pragueja, que franze o sobrolho, que usa a tromba, que revira os olhos, que faz questão de anunciar que faz favor em comungar da projecção na nossa tela

da melhor marca branca disponível na Makro

que invariavelmente também é castigado pelo resto da tribo e obrigado a encarregar-se da

parte logística do ritual.

(A distribuição de quantidades grossas de milho estalado e água com corantes potencialmente cancerígenos pela prole).

Wednesday, April 13, 2005

Dan Cake

O que me safa é que pelo menos nesta fase inicial,

[inicialérrima - porque a qualquer momento adivinha-se um contracto (sim, contracto, com "c". Com "c", senhores e senhoras. Por isso não, não se trata de um engano. É efectivamente aquilo que parece: uma rebeldia contra o acordo ortográfico, que a mim ninguém me perguntou nada. Eu cá sou do tempo do "c" antes do "t", eu cá estou a ficar caduca e a coleccionar manias - não tarda nada, estou apta candidatar-me ao chamado "feitio especial" - e também não temos que ser mamíferos lãzudos e seguir o rebanho de cada vez que uma cambada de literados se senta a uma mesa redonda com pretensões de homogeneidade cultural, não?)

MULTIMILIONÁRIO para vender o bestseller e vender os direitos de autora para o filme de Hollywood.]

só os meus amiguitos é que se dão ao trabalho de me ligar alguma.

Isto porque ao contrário do que é costume, e porque a excepção confirma a regra,

(falando em regra, confesso que, por regra, não sou nada adepta da sabedoria popularucha. Não debito propriamente ditados a cada situação carente de palavras sábias. Aqueles que privam comigo sabem perfeitamente que quanto a mim, quem tem telhados de vidro mora numa estufa; filho de peixe, peixe é; mãos frias, coração gelado e pela mesma lógica mãos quentes... fígado amarelo.)

hoje só tenho coisas bonitas para contar. Isto vai ser uma seca, portanto quem não gosta de mim

- assim com muitos coraçõezinhos e ternura,

salte o texto, compre umas Cruzadinhas, vá jogar à malha ou à batota.

É que passei o meu primeiro dia de aniversário de arromba

Institui oficialmente 5 dias de festa, para dar tempo a toda a gente de me dar a devida atenção. Esta minha herança mediterrânica com o perfume do Médio Oriente impele-me a rejeitar liminarmente o "fast-life" ocidental e a abraçar a langorosa degustação da vida oriental. 5 dias é o mínimo a que uma matulona com pretensões de princesinha mimada pode almejar!

e TUDO CORREU BEM!

É que nem uma chatice, nem um percalço, nem uma contrariedade. Passei o dia a ser brindada com radiações electromagnéticas do telemóvel plenas de bem-querença. Saí mais cedo do trabalho. Tive tempo para fazer a essencial máscara de beleza de morango e limão,

De resto, o melhor contraceptivo existente no mercado. Deambular pela casa nessa sublime figura é estimular o mais infalível abstencionismo sexual por um período mínimo de 7 dias úteis (o tempo que demora a ultrapassar o impacto da imagem).

tomar o duche como deve ser,

(nem as bolinhas de cotão no umbigo sobreviveram!)

aplicar os 4 cremes diferentes nas suas respectivas zonas de impacto,

(a acreditar nos anúncios, já me parecia mais com a Fernanda Tavares, não?!!! Mau.)

lambuzar-me com o jantarinho confeccionado pela mãe, com direito à bem disposta companhia do pai, experimentar múltiplas combinações de roupa, aplicar 4 camadas de rimmel para pôr a descoberto pestanas que de facto não tenho e sair.

E que belo - estupendo - bem-disposto - magnífico - assombroso naco de noite se revelou!

É claro que passei a noite com o polegar enfiado em cubos de gelo, a salpicar o chão e as gentes num perímetro de 1,5 m ao meu redor,

(Se tiverem que ajudar a acender 56 velas (a bela Ritinha açambarcou 30 das velas), por favor certifiquem-se que a pedrita do isqueiro não encrava. Deste modo, escusam de deixar uma simpática amostra do vosso DNA no dito acendedor automático. Fica aqui mais uma pérola de sabedoria. Abandono-a à vossa sagacidade com a garantia que este tipo de saber empírico tem o seu mérito.)

o que é capaz de explicar porque é que a mãe, em pleno clássico "I will survive", subitamente despenhou-se em queda livre, cravando os deditos na anca da Joana (que como eu precisa do corpo , preferencialmente sem hematomas para trabalhar). Enfim, o facto é que sobreviveu, o que se revelou assaz pertinente com a banda sonora.

A acompanhar o tradicional bolo de aniversário lá de casa - o incomparável Dan Cake de chocolate, a que a Rita, num conjunto manifesto de rejeição a pães de ló e fios de ovos e chantilly, prontamente aderiu, tivemos direito a champagne.

Sim, porque a nossa private party teve direito a penetras - estrangeiros com ares de vicking sem uma ponta de ritmo nas carcaças, que por algum desígnio místico (ou tentativa de suborno) decidiram oferecer-nos uma garrafa do dito borbulhante. Como não vieram falar connosco durante toda a noite, suponho que afinal não nos queriam pelo nosso corpo, nao é, Ritinha?

Que refrescante.

Em conclusão, agradeço ao barbudo Miguel por ter sido anfitrião e benfeitor da farra. Aos amigalhaços, por terem ajudado a movimentar o ar com as suas (por vezes improváveis) coreografias,

[refiro-me, nomeadamente, a uma certa pessoa que interpretou o explosivo papel de molusco-predador-sexual durante momentos deveras escaldantes - tu mesmo, oh Diniz! - ou ainda a um ou outro que, por impedimentos naturais (esta corja de tugas baixos, c'um caneco!!!), tiveram que se alojar aqui no peitinho para conseguir exercitar dois pézitos de dança de salão].

aos nórdicos, por nos terem relembrado que o seu PIB ao pé da nossa riqueza térmica é muito pobrezinho, coitadinho.

E hoje, com um quilo de ranho por cada ano completo e a voz de fadista/mulher vivida, escrevo com um sorriso rasgado

(com o dente torto à mostra e tudo)

obrigada pelo mimo, pelos presentitos (ihihihi! presentitos!!!!) e porque foi mesmo como fazer 18 outra vez... Váléu, gáléra!

Thursday, April 07, 2005

O Papa II

E depois desta conversa toda, vamos a ver o que realmente me incomoda.

Daqui a uns parcos dias avanço um ano no bilhete de identidade.

(Alô, alô, ATT, Yo, pai, mãe, manas... Se estava esquecido, anotem aí. Ao menos o tradicional bolo de aniversário Dan Cake mereço, não?! Podem usar as velas recicladas. Estão na 3ª gaveta a contar de cima da banca da cozinha.)

E um destes dias cogitava, algo agitada, sentada na melhor retrete do mundo, que é sempre a nossa,

(agitada porque como a tampa azul desse higiénico trono está semi-desatarraxada

- mais um daqueles percalços a clamar uma rápida e com certeza básica intervenção de bricolage, que terá que esperar por um fortuito "affair" ou quiçá uma providencial visita do progenitor em dia de excepcional bom-humor -
acabamos por sofrer pequenos desequilíbrios e oscilações a meio do esforço abdominal)

quando me atingiu, qual relâmpago, qual clássico cofre a esmagar o desenho animado, o verdadeiro peso da minha idade.

Criaturas que partilhais da mesma atmosfera e sofreis com a mesma sucessão de incompetentóides no governo - em debate, desde o 25 de Abril, sobre o problema da produtividade em Portugal, - eis o que estas parcas 25-a-caminhar-para-as 26 primaveras, já viveram:

  • o século passado (só isto é o suficiente para me identificar com público-alvo dos anúncios de anti-rugas);

  • mudança de divisa nacional (e ao que parece, aos 80 ainda me perguntarei quanto é que €256 168 752 124 são em escudos);A propósito, se porventura algum dos leitores souber o valor sem recorrer a máquina calculadora científica, por favor peça-me em casamento. (Casamentos lésbicos também se consideram. Já não estou com meias medidas. É só uma questão de ultrapassar a repulsa pela língua holandesa e devo aguentar o tempo da cerimónia.)

  • a queda das Twin Towers; Sou do tempo da eleição do Presidente incontestavelmente mais mentecapto
    mentecapto - do Lat. mente captu, tomado no entendimento, adj. fraco de espírito;
    falto de siso, de entendimento; néscio; alienado; louco; idiota.
    da História da Humanidade (nem em ficção se criaria uma personagem assim. Lá nisso dou-lhe crédito). Refiro-me, claro, ao cavalheiro com nome de planta de caule lenhoso com ramos a partir da base; com nome de sarça; com nome de vergôntea.

  • do Tsunami.

  • "last, but not least", do Papa João Paulo II.

E quando, numa tarde de Verão, filhos, netos, sobrinhos, - um mínimo de 3 gerações - estiver sentada à volta da mesa, a enfardar o bandulho de comidinha com deliciosos níveis de colesterol e

entre gritos de "Largue o chocolate, avó!", que aviso já - por uma questão de coerência com o presente - ignorarei com esta teimosia que dá mostras de não ir a lado nenhum,

me perguntar

"...e como é que foi quando o Papa morreu, 'vó?" (isto em português ou grego, mas poupo-vos para já à versão bilingue, que nem encontro os caracteres, nem me apetece transliterar)

responderei, para consternação geral:

"...Olha, nem sei... passei o tempo todo a mudar de canal."

E é assim que, com tantos anos ainda pela frente, tenho que aturar a ideia de ser a avó mais impopular do mundo, porque a estúpida da RTP1 e amiguinhos da privada não sabem ser comedidos na informação!

Tuesday, April 05, 2005

O Papa I

O Papa morreu.

Ai que eu não aguento. Ora PORRA DO CARAÇAS, que houve algum pirata matreiro que sabotou a televisão e o rádio e os jornais, porque vejam lá que NÃO SE VÊ, NÃO SE OUVE, NÃO SE SENTE NADA PARA ALÉM DO AR EMPESTADO DA CARA, DO CHEIRO, DA AURA DO PAPA MORTO.

Meninos, o senhor morreu. É um facto. Dir-se-ia, aliás, que não constituiria surpresa de espécie alguma para ninguém, tal foi a eficaz cobertura de abutre que a imprensa dedicou, de alma e coração e amor às sondagens, a essa morte. Fomos sucessivamente bombardeados com imagens de multidões que aguardavam por baixo da sua janela, sequiosos de novidades sobre o seu estado de saúde. Atenção que não critico a homenagem e o apoio que as pessoas lhe quiseram mostrar. Tudo bem. Gostavam dele, fizeram uma vigília. Certo. Mas a cobertura mediática, apre, a COBERTURA MEDIÁTICA!!! As notícias tocavam a orla do ridículo - era quase um

"Ao que parece, fontes alegam que o Papa terá aberto uma pestana... Não.... um momento... esta informação está a ser actualizada... Não, falso alarme, afinal não foi a pestana que abriu, foi uma ilusão óptica causada pela profusão de branco no quarto com a luz fluorescente... Não deixaremos, contudo, de estar atentos a QUALQUER MOVIMENTO OU AMEAÇA DE MOVIMENTO por parte do Sumo Pontífice. "

E agora que o seu sofrimento acabou, partimos nós para a dor crónica. Um milhão de casquinhas humanas decide espremer-se para ver o corpo (serei apenas eu que acha isto mórbido?!!), um milhão de pessoas aguenta-se estoicamente 24 horas nas suas próprias canetas

(E se lhes apetece fazer xixi ou cócó, irra? - A mami e eu ontem bem nos entretemos a gizar planos exequíveis para uma eventualidade intestinal, mas a julgar pela fila, não 'tou a ver. Comé... uma pessoa sai e depois quer voltar a entrar e tem 999 999 caras trombudas que convenientemente não se recordam da delicadeza dos nossos traços e vai daí ou a) Começamos uma rixa com efeito dominó e tornamos as imagens aéreas das TVs de todo o mundo muito mais dinâmicas, carregando o fardo de ter inserido o termo "porrada" na solenidades fúnebres do Papa ou b) Vamos pró fim da fila. Eh, lá. É lixadinho.)

na esperança de ver aquilo que a sua própria fé afiança não passar de uma cápsula sem importância, porque o espírito partiu, foi, já não está no Vaticano. E eu, que estou por cá, que não tenciono incorporar a turba de vassalos, que quero ver o telejornalzinho saber o que se passa no resto do mundo e neste país para fazer boa figura se alguém de repente, a meio de uma tarrachinha, me decidir perguntar

"E aquela coisa do Quirguistão, hem? Uma chatice!"

eu, que pensava que o jornalismo era o "O quê, quando, onde, como" e ao invés me vejo obrigada a mastigar episódios novelísticos sem a benesse de um protagonista que desperte sensações hormonais agradáveis...

Eu, dizia

(com a quantidade de "eu"s que para aqui vai, suponho que seja tarde para disfarçar o meu narcisismo?)

não me canso de enojar com este exagero histérico que pretendem vender como "zelo jornalístico".

Não pretendo ser a estúpida a negar o que este líder religioso em particular pesou na História do nosso século... É sobejamente conhecido as suas incansáveis tentativas de propagar uma mensagem mundial de paz, blá, blá, blá. E todavia, como todos os homens - fez coisas boas e grandes porcarias.

É que detesto ser eu a lembrar, mas nem que cada um dos dedicados viajantes acendesse 3 velitas - uma por cada mão e outra na boca, à laia de penitência - se conseguia celebrar a memória de sequer uma significativa percentagem de todos aqueles

que respiravam, que sonhavam, que podiam ser bonitos ou feios ou musicais ou matemáticos ou qualquer coisa e certamente eram amados e amavam e por isso faziam a diferença para uma ou muitas outras pessoas que morreram com certeza um pouco com as suas mortes

que não estariam a partilhar o Céu ou o Inferno com o Papa se tivessem usado o bom senso e um preservativo.

(desculpem, aposto que o meu nível de popularidade mergulhou no mais ímpio dos abismos,

ousei sugerir que o Papa podia ir para o Céu... ou o Inferno!

mas não sou eu o Juíz e apesar de sinceramente recomendar sempre no meu íntimo o Céu - claro - a sério que não o envio para lado nenhum.)