Os Desastres de Sofia
Monday, April 23, 2012
Monday, March 26, 2012
Doçaria de terror.
Wednesday, August 03, 2005
Outros males.
Ontem arrasto o esqueleto por baixo de um calor tropical até à repartição de finanças da minha zona. O Estado, essa vaca de tetas secas, repescou-me o I.R.S. para auditoria, a querer que eu explicasse coisinhas sem importância - o iate, as vivendas no Algarve (só uma é cobardia), os terrenos na Suíça (porque não cabe na cabeça de ninguém querer um pedaço de relva fria na Suíça), a ilha privada na Polinésia e outras trivialidades materiais que adquiri, apesar de auferir um salário mínimo.
(Note-se que aqui se encontra subjacente o segredo da fuga ao fisco portuguesa: a "petite nuance" que separa "o" salário mínimo (artigo definido que corresponde à quantia convencionada) de "um" salário mínimo (que depende, claro está, da consciência de cada um e aí, meus amiguitos, ninguém tem o direito de julgar!!!)
Chego ao arejado e ergonómico espaço, retiro a senha, aguaaaaaaaaaaaaaardo a minha vez, dirijo-me ao balcão e saco dos papelinhos.
"Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhh, estamos sem sistema!" "Sem sistema?!... E agora?! Não dá para...."
Sento-me, consternada e aguaaaaaaaaaaaaaardo.
"...Ai, mas este não pode ser o responsável! Sem domicílio fiscal definit..."
Corto a conversa, na interrogação vomitada a medo: " O sistema já...?". Não, o sistema nada. Torno a sentar a perna lesionada.
"...Pronto, então deixa o 7º, mas tem que ter o contribuinte do senhor!"
A funcionária e o contabilista rezingam, fazem as pazes, discordam, arrulham e decidem finalmente a trégua. Eu agradeço interiormente a ausência de propagação de sons fiscais e números e alíneas, mas o silêncio é curto. Bem entrego lânguidos olhares à funcionária, mas sou recebida com um aceno negativo. O sistema, ai o sistema.
Alinha-se assim a próxima vítima. Eu volto ao enredo da bezerra e acordo com outra hostilidade aberta:
Enfim, não variou muito destas linha, com o cruel mote "... pois, só que agora TEEEM que pagar os cento e vinte e cinco euros!" repetido em tom estridente, a coçar aquela notinha particularmente irritante e aguda que que causa enxaqueca a qualquer par de ouvidos minimamente... humanos.
A sentenciada desocupa o balcão, penduro-me eu no espaço vazio e desta vez a sorte (a tal que lixou o sistema) finalmente me bafeja a face. Entrego o papelucho outra vez, junto o Cartão de Contribuinte, ouço o "tic tic tic tic" de 10 teclas e de repente um "Aaaaaaaaahhhhhhh. Isto não é nesta repartição!"
Todo o sangue se reúne nas faces (fui eu operada por causa da má circulação e afinal é assim que se puxa o sangue das pernas! Porque é que não pensei nisto antes, caramba. Uma ida semanal a uma repartição de finanças e tinha metade dos derrames), a mostarda está concentrada no nariz. A minha ira foi invocada.
"Como é que não...?!?!?!"
Para encurtar a história, que a memória é muito fresca e dolorosa e parece que sinto azia outra vez, depois de consultarmos o livro com os códigos postais, olharmos para o cartão, conferirmos o B.I., alterarmos no sistema e eu sei lá que mais... Dei por mim finalmente a abandonar o consultório de tributação, deixando para trás perto de uma dezena de carinhas tristonhas e desconsoladas e tentando não me desesperar com o facto de
"...É que faltam aqui os recibos de renda dos meses de...!"
ter que lá voltar amanhã.
Não me interpretem mal. Não me estou a queixar da funcionária. A senhora estava sozinha e aflita (muito triste) e de facto fez o melhor que podia e de facto não tem culpa de ter a voz estridente e de facto lá que tentou, tentou. Ainda assim... Um Valium, por favor.
Monday, July 18, 2005
pintar o escritório, pelo que me pavoneava despudoradamente com um ar algo híbrido de imigrante ilegal com americana paranóica em exercício nuclear em plena Guerra Fria (se bem que a máscara sempre me disfarçava o nariz);
assistir ao Campeonato Europa Divisão C de Basquetebol em Cadeiras de Rodas (a Grécia ficou em 3º lugar e Portugal alcançou um histórico 5º lugar) e acabar na borga com os Croatas (2º lugar) e os Gregos;
apanhar uma alergia com o nome ultra-chique de "pitiríase rosa" (rosa, essa cor tão na palette da Primavera-Verão 2005) e com isso ganhar acesso ao "Twilight Zone" que é o espaço de Urgências dos nossos amados hospitais e uufruir do sempre renovado choque que é puxar da senhazinha, porque por muito mau que o imaginemos, NUNCA conseguimos acertar na previsão numérica correcta que separa o deprimente algarismo desse pedacito ranhoso de folha, da nossa vez;
preparo-me para me fazer o óbvio no rico dia de amanhã: drogar-me e deixar que alguém que se licenciou em esquartejamento de pernas chafurde nas veias de um dos meus tão popularmente longos apêndices motores e tente a sua sorte.
Sim, meninos, porque esta torre ambulante de humor corrosivo, este colosso de mulher que é a vossa rabugenta diva grega aterrou neste mundo com uma chatice de velhos muito pouco própria de divas chamada má circulação. Sim, meus caros, vão-me sacar uma variz. Uma sacana duma variz, mesmo. Não há direito.
Aguardam-me 10 dias de repouso total - uhuhuh, sim, sim, claro, claro - em casa, pelo se aceitam mensagens de amor (mas isso comedido, rapaziada, que já fui fisgada por um emigrante calado-mas-não-tanto-assim e não tou para chatices, ai a coisa, conformem-se, já disse) e manifestações de solidariedade (vale tudo, menos auto-mutilação), no que aproveito para largar as seguintes singelas sugestões:
Mensagens de texto via telemóvel; Telefonemas; A oferta de ecran de plasma gigante com DVD; Aparecerem no ghetto chique em que vou hibernar com um dos ou todos os seguintes bens alimentares: brigadeiros de chocolate, gelado de morango caseiro, tarte de limão merengada, lasagna vegetariana, robalo grelhado com batatinhas assadas e molho de manteiga e alho, caipirinha.
Com estas pequenas insinuações me despeço, certa de que a imagem desoladora da Grega numa bata tinhosa de hospital (aquelas tretas nunca atam como deve ser atrás e quando não expomos, em vitupério absoluto, o rabo aos corredores da Cirurgia, no mínino sofremos com a corrente de ar nessa zona tão sensível e querida. Rabos frios não apetece a ninguém, caramba.) vos impelirá aos corredores do supermercado mais próximo.
Até lá, farewell. Beam me up, Scottie.
Monday, July 11, 2005
Aaaaaaaaaaahhhhhhhh, sexta-feira, clímax cronológico da semana proletária,
sexta-feira, musa de inumeráveis canções e filmes,
sexta-feira, essa palavra que se espreguiça, lascivamente, entre a língua o céu da boca
sexta-feira, o único nome próprio digno de acompanhar Robinson Crusoé no isolamento de uma ilha localizada algures no rabo do discípulo traidor (o chamado "cu de Judas", para os que não lêem a Bíblia e nem sabem quem foi o discípulo traidor - tss tss),
sexta-feira, esse vislumbre comovente da linha de meta,
sexta-feira, sexta-feira,sexta-feira. Oooooooooooooooooh, sexta-feira.
Abranda o ritmo cardíaco, o sangue flui mais regular nas veias, o cérebro (esta caganita do tamanho de um tubérculo que para aqui lateja de vez em quando) refreia os sinais eléctricos que o fazem funcionar e encostamo-nos à ideia de um fim-de-semana que provavelmente será passado num ápice e com a emoção de uma aula de Introdução à Contabilidade, mas que por ora - agora - é uma doce e inebriante promessa de liberdade. Oh, sim. Sexta-feira.
Friday, June 24, 2005
Confissão

Dito isto, é com um forte rubor nas faces e engolindo em seco que confesso ter passado 10 dias estupendos de férias em Itália, a enfardar-me de massa e a evitar estoicamente crises aerofágicas, a deambular por Génova, a amassar as costas contra as praias de pedras e rochas do Mediterrâneo, a practicar o F.D.C.Q.T.P.C.* em certas ruas de Milão, enfim... Eu nem tenho coragem de fazer o relato completo, até porque a ultima coisa que pretendo é que a estampa de anúncio Martini que me acompanhou no processo seja assediado por papparazzi**. Foi o deboche total.
5 dias volvidos deste indesculpável relato de felicidade, não tenho uma única amargurazinha para relatar. E, para cúmulo, já é 6ª feira. Descanso outra vez. Sei que vos desaponto, mas aguardo alguma complacência. Isto é só esperar um bocadinho que o efeito das férias passa. Hoje mesmo, por exemplo, posso tropeçar do alto das minhas socas e sabe-se lá que historieta isso não fabricará!!! (Se não tropeçar, lanço-me das socas, prometo.)
Assim me despeço. A Musa Grega, diva dos blogs, anda bem-disposta. Perdoem-me... e até breve.
*F.D.C.Q.T.P.C. - Faz De Conta Que Tenho Poder de Compra, modalidade que envolve geralmente o embaciar pouco discreto das vitrine da Valentino, Yves Saint-Laurent, Christian Dior, Armani, etc. e que em prácticas mais extremas pode, inclusivamente, levar ao esparramar completo das bochechas, nariz e mesmo do resto do corpo completo contra as ditas montras. Não é bonito de se ver.
**Agora também estás tramado, querido.
Tuesday, June 07, 2005
Dolce Fare Niente
Depois de uma primeira noite que auspiciava um remate diferente - chegadas às 3 da matina, via-me entrincheirada num sofá-cama com mana e irmã (sim, éramos mesmo 3), com um gato de 2 meses que se recreou noite fora
(o que sobrava da noite)
a pulular nos nossos estômagos, a morder os deditos dos pés, a arranhar as coxitas, a correr para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e (já estão a perceber), maneiras que quando não se acordava por se ser a vítima, acordava-se com o berro da vítima do lado, que acabara de acordar de sobressalto com o bichano em cheio na boca e cuspia a bola de pêlo em pânico. A abençoada salita era um coro gregoriano de "ai-ui-ah-ah-ah", logo seguido de um brutal "QUE É QUE FOI, QUE É QUE FOI?!" do ente querido que na altura nos espetava o cotovelo nas costas, mas que até se preocupava (era à vez).
Não me interpretem mal, que o gatinho e eu ficámos unha com carne
mas quando no dia seguinte o mini-felino teve o desplante de descansar de todo o exercício físico practicado de véspera sobre os nossos corpos fatigados, ocorreu-me que aquilo não era vida, pelo que a situação evidentemente melhorou na 2ª noite, quando num daqueles meus rasgos de génio que tanto faço questão de publicitar larguei
a caixa de areia do gato, a cama do gato e o gato
no corredor e fiz ouviditos de mercador aos miados do bichano. Dormi como um anjinho (isto se já tiverem provado que os anjos ocasionalmente dormem de boca aberta e babam a almofada).
Depois disso,
e é com lagrimetas penduradas no rímmel, cavando um inestético ribeiro negro bochechita morena abaixo que o digo,
aqui declaro comovida que o fim-de-semana foi tudo o que sonhei. Com indelével perícia, manuseei aquele factor 40 e aquele factor 25 e aquele factor 10 ao longo de horas transpiradas à torreira do sol e abri caminho ao estatuto de bomba latina (mais coisa, menos coisa, estou lá), desfilando de fronte erguida entre inúmeros bifes e gambas estrangeiritas, qual Rainha do Sul.
O facto é que me esquecera do quão bom é
não ter que planear com rigores militares a praia que pretendemos atacar, o percurso que devemos tomar, as horas a que devemos sair, as horas a que devemos voltar;
não ter que amassar o ouvido junto à coluna do rádio para ouvir o relatório do trânsito;
não ter que esbracejar e desesperar em horas de trânsito, mesmo que tenhamos cumprido à risca as 2 últimas premissas;
e também esquecera do quão bom é
estarmos todas, juntas, as 3 manas e a mãe. Podemos ser malucas, podemos ser doidas, podemos agir de modo insano e complicar tudo (pronto eu corrijo. Ou melhor, corrijam os meninos: é só passar a frase a singular), mas XIÇA, que somos felizes juntas (esta última parte mantém-se no plural)!!!!! Que mulheres estupendas, caramba. :-)