Friday, June 24, 2005

Confissão

Quando comecei este rico ninho vocabular, apregoei - e justificadamente, diria - que seria recipiente das minhas constantes e involuntárias desventuras ou pelo menos o eco de uma visão algo acidazinha dos (múltiplos) pequenos contratempos da vidinha quotidiana. Ocasionalmente, aproveitaria para lançar alguma verdade constrangedora de sabedoria (o que ainda não aconteceu) ou abençoar-vos com este abismo de cultura geral e opiniões válidas sobre o mundo actual (também não, mas não percam esperança, que mais dia, menos dia, o Marcelo Rebelo de Sousa cansa-se e incontornavelmente que sou a 2ª opção mais óbvia).

Dito isto, é com um forte rubor nas faces e engolindo em seco que confesso ter passado 10 dias estupendos de férias em Itália, a enfardar-me de massa e a evitar estoicamente crises aerofágicas, a deambular por Génova, a amassar as costas contra as praias de pedras e rochas do Mediterrâneo, a practicar o F.D.C.Q.T.P.C.* em certas ruas de Milão, enfim... Eu nem tenho coragem de fazer o relato completo, até porque a ultima coisa que pretendo é que a estampa de anúncio Martini que me acompanhou no processo seja assediado por papparazzi**. Foi o deboche total.

5 dias volvidos deste indesculpável relato de felicidade, não tenho uma única amargurazinha para relatar. E, para cúmulo, já é 6ª feira. Descanso outra vez. Sei que vos desaponto, mas aguardo alguma complacência. Isto é só esperar um bocadinho que o efeito das férias passa. Hoje mesmo, por exemplo, posso tropeçar do alto das minhas socas e sabe-se lá que historieta isso não fabricará!!! (Se não tropeçar, lanço-me das socas, prometo.)

Assim me despeço. A Musa Grega, diva dos blogs, anda bem-disposta. Perdoem-me... e até breve.

*F.D.C.Q.T.P.C. - Faz De Conta Que Tenho Poder de Compra, modalidade que envolve geralmente o embaciar pouco discreto das vitrine da Valentino, Yves Saint-Laurent, Christian Dior, Armani, etc. e que em prácticas mais extremas pode, inclusivamente, levar ao esparramar completo das bochechas, nariz e mesmo do resto do corpo completo contra as ditas montras. Não é bonito de se ver.

**Agora também estás tramado, querido.

Tuesday, June 07, 2005

Dolce Fare Niente

Depois de uma primeira noite que auspiciava um remate diferente - chegadas às 3 da matina, via-me entrincheirada num sofá-cama com mana e irmã (sim, éramos mesmo 3), com um gato de 2 meses que se recreou noite fora

(o que sobrava da noite)

a pulular nos nossos estômagos, a morder os deditos dos pés, a arranhar as coxitas, a correr para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e para lá e para cá e (já estão a perceber), maneiras que quando não se acordava por se ser a vítima, acordava-se com o berro da vítima do lado, que acabara de acordar de sobressalto com o bichano em cheio na boca e cuspia a bola de pêlo em pânico. A abençoada salita era um coro gregoriano de "ai-ui-ah-ah-ah", logo seguido de um brutal "QUE É QUE FOI, QUE É QUE FOI?!" do ente querido que na altura nos espetava o cotovelo nas costas, mas que até se preocupava (era à vez).

Não me interpretem mal, que o gatinho e eu ficámos unha com carne

(a minha carne na unha dele, entenda-se),

mas quando no dia seguinte o mini-felino teve o desplante de descansar de todo o exercício físico practicado de véspera sobre os nossos corpos fatigados, ocorreu-me que aquilo não era vida, pelo que a situação evidentemente melhorou na 2ª noite, quando num daqueles meus rasgos de génio que tanto faço questão de publicitar larguei

a caixa de areia do gato, a cama do gato e o gato

no corredor e fiz ouviditos de mercador aos miados do bichano. Dormi como um anjinho (isto se já tiverem provado que os anjos ocasionalmente dormem de boca aberta e babam a almofada).

Depois disso,

e é com lagrimetas penduradas no rímmel, cavando um inestético ribeiro negro bochechita morena abaixo que o digo,

aqui declaro comovida que o fim-de-semana foi tudo o que sonhei. Com indelével perícia, manuseei aquele factor 40 e aquele factor 25 e aquele factor 10 ao longo de horas transpiradas à torreira do sol e abri caminho ao estatuto de bomba latina (mais coisa, menos coisa, estou lá), desfilando de fronte erguida entre inúmeros bifes e gambas estrangeiritas, qual Rainha do Sul.

O facto é que me esquecera do quão bom é

não ter que planear com rigores militares a praia que pretendemos atacar, o percurso que devemos tomar, as horas a que devemos sair, as horas a que devemos voltar;

não ter que amassar o ouvido junto à coluna do rádio para ouvir o relatório do trânsito;

não ter que esbracejar e desesperar em horas de trânsito, mesmo que tenhamos cumprido à risca as 2 últimas premissas;

e também esquecera do quão bom é

estarmos todas, juntas, as 3 manas e a mãe. Podemos ser malucas, podemos ser doidas, podemos agir de modo insano e complicar tudo (pronto eu corrijo. Ou melhor, corrijam os meninos: é só passar a frase a singular), mas XIÇA, que somos felizes juntas (esta última parte mantém-se no plural)!!!!! Que mulheres estupendas, caramba. :-)

Wednesday, June 01, 2005

Isto só pode correr bem


Só para avisar que este corpinho bolorento, bafiento, pálido e queixoso prepara-se para arrastar-se no final da jornada de trabalho do dia de hoje para aquilo que só poderá ser um fim-de-semana perfeito, de tosta humana escarranchada na areia do meu Algarve.

Com alguma sorte, arranjo um pedaço que não esteja contaminado por hordas de famílias com representantes de 4 gerações migrantes do Norte, daquelas que levam a tenda, a arca frigorífica, a mesa, as cadeirinhas, as criancinhas, o cãozinho, o microondas, os 5 guarda-sóis e o rádio empatado na estação de música pimba e que,

quando não estacionam logo à entrada da praia - formando um enclave de abelhinhas ocupadas e barulhentas, - e por algum assombro de clareza de espírito avançam para além desse perímetro fantástico,

conseguem encontrar a nossa toalha e por algum novo assombro - desta feita de espírito turvo e cego - parqueiam a sua colónia à distância de fazer cócegas nos mindinhos dos nossos pés, mesmo que estejamos ladeados de 5 kms de extensão de areia por ocupar.

Enfim, tenciono deslocar estes ossos débeis às praias menos conheciditas (senão não escapo, poça) e colocar-me de molho na águinha não-glaciar do meu Algarve. Sim, porque lá porque os amantes da Costa da Caparica achem piada a treinos de esquimó, confesso que não tenho a mínima vocação para o frio. (Perdoem-me se acho que sofrer dor física para me refrescar não cabe no meu conceito de uma ida à praia feliz).

E se me dou ao trabalho de elaborar este anúncio com pompa e circunstância, é porque gostaria de avisar a todos os espíritos vingativos que preparam bonequinhos de voodoo e que já contactaram o Professor Bambo, vidente, e índios da Amazónia e a Maya no sentido de tentar conspirar chuvinhas e chuviscos lá para os meus lados que não vou nessa conversa e que recuso liminarmente toda a sorte de nebulosidade e pluviosidade e outro tipo de cabalas atmosféricas.

É que se não volto desta empreitada um guindaste de cor e pele salgada... não me procurem por uns tempos. Aqui vou eu!