Tuesday, May 17, 2005

Belas férias.

Calem o choro, enxaguem os olhos, larguem a polícia. A grega voltou. Sim, voltou.

Onde fostes, pequena?, ejaculais vós em pertinente demanda.

Filhotes, tal como ameacei (por isso não digam que não avisei) tive um "crash&burn" oficial e portanto, a dois segundos de me transformar irreversivelmente num vegetal, decidi meter férias.

Onde gastaste tu 6 dias desse precioso arsenal de dias de licença, criatura?, retorquis vós, com saudável curiosidade.

Meninos, depois de um estudo minucioso que contemplou hipóteses tão tentadoras como a Grécia, Ilhas Fidji, Açores, Quénia, Cabo Verde e outros que tais, optei por uma alternativa pouco óbvia,

se bem que de cariz peculiarmente compulsivo, como tão bem argumentou o meu banco,

mas de interesse antropológico inegável . Fiquei em casa. Não arregalem os olhos em desdém, que a gente no fundo passa muito pouco tempo em casa.

A ver: como insignificante insecto trabalhador que sou, raramente ou nunca estou no bairrinho entre as 08h-18h, o que significa que há 10 horas por dia, de 2f a 6f, que desconheço do movimento da minha rua. Mais a mais, como execrável mercenária que também sou, é com ainda mais lamentável frequência que me ausento de casa em horários pós-laborais, fatigando este corpinho com extras.

O que sucede, afinal, durante essas horas? Que lixo optam os meus vizinhos por deitar ao chão durante esse período? Quantas vezes escarram, em média os transeuntes (divididos por sexo e faixa etária)? Qual a tonalidade mais frequente de buzinas (aguda, média, grave) que apitam rua abaixo, rua acima?

Estas e muitas outras questões de igual calibre importava responder. A não ser que fizesse bom tempo, é claro.

Nesse caso ia à praia. Sim, desistia voluntariamente deste tom pérola e vendia-me ao escuro. Estirava-me com o mínimo de (ou nenhum) tecido em cima, desafiando a minha paupérrima melanina com o máximo de exposição solar

(protegida, caramba, protegida, xiça, mãe, já disse que tenho protector, apre que já expliquei que é um factor alto, altíssimo, IRRA, não me obrigue a dizê-lo - SIIIMM, é o para crianças - aquele que é VERDE no início, que humilhação, eu a querer armar-me em beach babe e em vez disso a desfilar qual elfo venusiano de orelhas redondinhas e mamas verdes xxs.)

e executando a seguinte coreografia mínima de movimentos:

VIRAR - flip! de barriga para cima; flop! de barriga para baixo

IR - à água

VIR - da água

Como é evidente, dessa vasta gama de possibilidades climáticas que me poderia ter calhado em meados de Maio,

depois de um indiscutível Inverno seco; depois de uma seca que encheu páginas de jornais, aberturas de telejornal, que lixou bem lixadinha a agricultura, que condenou a ainda mais dificuldades económicas tanta boa gente, etc.,

saiu-me na rifa uma sucessão de nuvens, enevoados, frio... e chuva.

Maio, maduro Maio, quem te pintou?!

Portanto lamento, mas caí num estado de neura que me toldou o juízo académico e colocou em causa quaisquer resultados da investigação a que me tinha tão conscienciosamente proposto, tal como descrevi no início deste texto.

A todos aqueles que morriam por saber afinal que lixo optam os meus vizinhos por deitar ao chão entre as 08h e as 18h e quantas vezes escarram, em média os transeuntes (divididos por sexo e faixa etária) e qual a tonalidade mais frequente de buzinas (aguda, média, grave); a todos aqueles cujo trabalho de doutoramento foi posto em causa por contarem com estes resultados (que se adaptam perfeitamente a qualquer campo das ciências humanas e científicas) para enriquecerem a temática abordada; a todos aqueles cuja curiosidade não será saciada e cujo vazio deixado por esta lacuna oprime o peito e contrai o diafragma em aparatosa dor...

As minhas mais sinceras desculpas.